22 de ago. de 2010

Diário de Viagem - chegar em Dublin - A Missão

Muitas vezes as coisas acontecem em nossa vida como um aviso, uma lição, à qual devemos prestar atenção mas nunca o fazemos, acabando sempre por aprender (ou não) das formas mais difíceis. Londres é uma cidade fascinante e eficiente. Peguei o metrô em Warren Street, linha Victoria, desci na estação do mesmo nome e peguei o trem para Gatwick (Gatwick Express). Tinha que estar no aeroporto pelo menos até 7:30, pois o vôo sairia às 9:50. A viagem é rápida, tranquila e passa por lugares simples, mas bem peculiares: a sucessão de casas de tijolos marrom-avermelhados, ou então brancas, com teto muito escuro.

Mas, se existe alguma coisa que eu possa dizer que detestei em Londres, foi o aeroporto de Gatwick. OK que Heathrow não é lá o melhor aeroporto do mundo (tem um índice de reclamações altíssimo por parte dos usuários), mas pelo menos se parece com um aeroporto. Gatwick se parece com uma grande rodoviária mal planejada. O saguão de check-in parece com o de um hospital público no Brasil, só que muito maior. Ou com a área de compra de bilhetes de uma rodoviária, mesmo - só que a do Tietê é bárbara, ao passo que a daqui... nem pensar.

Muitas companhias aéreas, um aeroporto movimentado, pouca gente para atender e um serviço de check-in horrivelmente confuso. E, "to add offense to injury", como se diz em inglês, estou viajando de Ryanair (que, por aqui, eles pronunciam algo como 'ráiner'). A "companhia" só tem dois guichês de check-in. Para meu infortúnio, a única peça de bagagem que você tem direito a levar na cabine sem pagar por isso não pode ultrapassar 10 Kg (a minha, descubro, tem 12, mas a moça até que foi bacana e me deixou passar sem me cobrar as 40 libras pelo excesso de peso (sim, eles metem a faca). OK, vou para a verificação de passaporte (minha saída não foi carimbada). Aliás, o que mais fazem é olhar passaporte por aqui, mas ninguém da imigração, mesmo. Estranho.

O portão de embarque é anunciado em um painel eletrônico. A divulgação do portão para o meu vôo está prevista para 8:50. Como estava com fome, fui comer no Pret-a-Manger (a salvação da minha lavoura em momentos difíceis). Depois descubro, com certo sentimento de que algo não está muito certo, que o vôo está atrasado. Aliás, este será o único vôo atrasado nas próximas duas horas. Quando consigo saber, também através de um painel eletrônico, que o avião ficou em Dublin para manutenção, minha preocupação dobra... algo definitivamente não cheira bem...

Finalmente descubro que o vôo vai sair às 11:20. Mentira: entre embarque e decolagem foram quase 50 minutos. O vôo decolou 12:05. Aliás, a primeira lição que aprendi: NUNCA viaje pela "Ráner" - é a pior coisa do mundo. Os bancos não reclinam, o espaço entre os eles é o menor possível, a confirguração 3 assentos-corredor-3 assentos é de matar, não há lugares marcados - chegou primeiro leva! O staff (99% masculino no avião) é antipático, e o interior da aeronave é horrendo!!!! Amarelo com azul escuro de doer os olhos. Dá vontade de vomitar... E fiquei repetindo o mantra: "da próxima vez, Aer Lingus, da próxima vez, Aer Lingus, da próxima vez, Aer Lingus". Aer Lingus é a companhia irlandesa de aviação. Se eu tivesse pesquisado melhor, teria pago 20 libras a mais, mas teria tido mais conforto e menos limite de bagagem.

O aeroporto de Dublin é grande, bastante moderno aparentemente, e limpo. Ao lado tem um pequeno terminal de ônibus. Dentro, pergunto à funcionária do Centro de Informações Turísticas de Dublin como chegar na Dublin City University (DCU). Ela prontamente me informa que posso pegar o 41, ali ao lado e descer em Whitehall. É só falar com o motorista onde quero descer. Compro um bilhete de 5 dias de ônibus e vou para o ponto. Quando o 41 chega, confirmo com o motorista e subo. Só que ele se esquece de me dizer onde devo descer, passo três pontos de onde devria ter descido e, nessa altura eu já com fome e cansaço, descubro que a DCU não fica muito perto da avenida onde eu desci (ainda que tivesse sido no ponto certo, ia andar como um camelo). 4 pacientes irlandeses depois, consigo chegar na DCU. A última pessoa com quem falei, uma senhora simpática que parecia estar caminhando para manter a saúde, deu um largo sorriso e, vendo a minha expressão de cansaço e desespero nem esperou eu perguntar e falou, simpaticamente: "DCU?". Confirmei com um sorriso encabulado e ela me indicou o caminho. Mais uma pernada. Quando finalmente acho o campus - que é enorme - descubro que encontrar a recepção das Halls of Residence não é tarefa fácil. O bom é que as pessoas dão informação de bom grado. Chego, finalmente, à recepção, pago a hospedagem antecipadamente (padrão, por aqui) e o rapaz me diz, num mapa do campus, como chegar aos Hampstead Apartments. Não é fácil. Nada aqui é óbvio e começo a desconfiar da lógica irlandesa.

Desse pequeno episódio tirei mais duas lições: 1) quando viajar a um lugar estranho, que não seja tão organizado e civilizado como Londres, que tem um metrô que te leva para qualquer canto da cidade a partir do aeroporto, não seja mesquinho: pegue um táxi - economiza pernas e humor (o meu ficou péssimo). 2) Não fique no alojamento de uma universidade, por mais barato que seja. O quarto é bom (mas não tão bom quanto o do College Hall, da UCL), os prédios são agradáveis, mas não tenho a menor idéia de como circular aqui!!! Estou com medo de sair e não conseguir voltar. Ficar em um hotelzinho de quinta, ou num bed and breakfast barato mesmo que afastado de centro pode ser mais vantajoso.

Descubro que a Internet não funciona - o cabo que me deram está com problemas - vou ao mercado, compro frutas, pão, duas mini-porções de brie e com isso dou por encerrado meu primeiro dia em Dublin (na verdade, a 15 minutos de ônibus do centro... Mas pelo menos o chuveiro é ótimo e o travesseiro também.

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