20 de jan. de 2010

Aranha de Vidro

(ainda da série de textos perdidos)

Até um século atrás existiu, na província oriental de Zi Duang, uma aranha que parecia ser de vidro.

Tendo devorado suas presas ela ornaria sua teia com os esqueletos, criando, em semanas, uma urna de despojos.

Sua teia era, também, única, pois tinha muitas camadas, como andares de um edifício.

No alto deste lugar parecido com um palácio, reunidos com aparente cuidado, estavam pequenos e brilhantes objetos; vidros, contas, gotas de orvalho. Alguém quase poderia chamar aquilo de altar. Quando a brisa soprava através desta construção produzia sons lamentosos, chorosos.

Pequenos lamentos, pequenos choros.

Os filhotes da aranha ficavam assustados e procuravam freneticamente por sua mãe. Mas a aranha de vidro havia partido há muito, sabendo que os filhotes sobreviveriam sozinhos de algum modo.

Ah, a aranha de vidro tinha olhos azuis, quase como os de um humano. Eles derramavam lágrimas na invernal virada dos séculos.

(Tradução livre de "Glass Spider", de David Bowie)
Sem data; provavelmente meados da década de 90.

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