12 de mai. de 2009

Um pouco a cada dia

Não é nada fácil. Dizem que é como praticar exercícios ou tocar um instrumento: só se melhora com a persistência, com o trabalho diário, árduo, às vezes sem imaginação e com resultados pífios, mas não se deve desistir. Em algum momento o esforço deverá se mostrar útil e algo proveitoso deve acabar surgindo de tanto "suor e lágrimas".

Bem, aqui estou eu, no meu exercício: escrever. Ainda que sejam poucas linhas e que seu conteúdo nem seja algo relevante. Mas é preciso. É preciso principalmente agora que, um pouco no susto, descubro que aquelas mazelas da vida moderna começaram a se aproximar: o tal do estresse, a tensão diária e... o colesterol alto, a hipertensão, a indisposição e o cansaço. Não achei que chegariam tão cedo (não achei nem que chegariam! doce ilusão...). Dieta, exames, 'check-ups'. Meu projeto de viver cem anos começa a ser seriamente ameaçado... Não bastava o rim matemático nem as manchas de pele - não isso tava fácil. Tinha que mexer com as vontades mais traiçoeiras: as da comida, as da preguiça. Porque de uma tacada só tenho que fechar a boca e mexer o corpo! Que maçada!

E eu pensando que seguiria os passos de Dª Maria do Sacramento Brandão Ramos, minha doce vó, que viveu 103 anos. 103!!! Bah, que nada. Agora é "você precisa fazer exercícios"; "mas Dr, não tenho tempo! a que horas vou fazer isso? de meia-noite às seis? um homem de bem precisa dormir!". "Encaixa", diz ele sem tirar os olhos dos pedidos de exame que freneticamente escreve, um após o outro. Encaixa como, criatura? Acordar mais cedo? Ai, meu Deus! Macunaimicamente: "Ai que preguiça!". Mas acho que não vai ter muita saída: levantar mais cedo para pelo menos 30 minutos de caminhada pela Sumaré, fazer o quê. Pelo menos é de graça. Sim, porque as academias por aqui andam com os preços que provocam uma suadeira no bolso que só.

Acho que dá para viver sem um salzinho. Mas sem a manteiga e o queijo, ai, aí fica mais difícil. "Diminui", diz meu carrasco/salvador vestido de jaleco branco (franzo a testa, cerro os olhos e miro bem para ver se não tem nenhum sinalzinho de sarcasmo na fuça desse destemido - não tem, para sorte dele). Dá para por adoçante no café, mas dá para viver sem batata? Frita (sumo pecado), cozida, purê, sauté, com carne assada, na salada, "baked" com pasta de frango e requeijão, com maionese (light, claro!). Martírio. Mas, em nome do coração, faz-se o sacrifício. Até o sorvete agora é "dáiete". De iogurte. Ah, não, a calda de frutas vermelhas não conta, né. Covardia, tirar: fica tão bonitinha em cima da bola de sorvete. E é só de vez em quando ("tipo assim" toda semana).

Sim, em nome do coração, vale o sacrifício. Afinal, ainda quero ir a Londres por 15 dias (pelo menos), conhecer as Shetland, visitar minha afilhada de casamento em Reggio Emilia, dar um pulinho em Veneza antes que (ela) afunde de vez, conhecer o novo apartamento de meu amigo francês em Rennes, perambular pelas ruas de Paris, conhecer a vinícola perto de onde meu amigo brasileiro mora em Mâcon, e ainda fazer umas paradas estratégicas nos amigos em Munique e Colônia, e em Madri - ah, já estava esquecendo de Gaudí, em Barcelona! Tem que ter saúde para isso (o dinheiro também, mas essa é outra história).

Se não der para fazer isso tudo (que não precisa ser de uma vez - a não ser, é claro, que eu ganhe na mega-sena, hehe), quero pelo menos passar meus quinze dias em Londres e andar bastante a pé, visitar as várias livrarias que assinalei no meu guia "Booklover's London" e, se der, ainda dar outra canja cantando bossa-nova em um pub nas Docklands (sim, isso já aconteceu uma vez, mas também é uma outra história).

Se mesmo isso não der, quero me formar, quero aprender a escrever, quero continuar cantando até secar a garganta, quero continuar fazendo trabalho voluntário, quero cuidar de um jardim, quero reunir os amigos para uma (ou várias) taça(s) de vinho e um bom papo. Quero voltar a dar aulas. Quero dividir com os outros a alegria de aprender uma língua estrangeira e, com ela, abrir janelas para paisagens que poucas vezes teríamos chance de ver.

Por isso, diminuir o sal, o açúcar, a carne, e até a noite de sono vale. Como escrever, viver é assim: um pouco a cada dia.

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