10 de jan. de 2011

Biografia de um presidente - ou mais um comentário impertinente...

Ontem (domingo), passando pela vitrine de importante livraria de São Paulo, dei de cara com uma biografia dita "impecável" no cartaz de divulgação, do presidente americano, Barack Obama. Há pilhas e pilhas do livro na vitrine e me pergunto se conseguirão desovar tal quantidade dessa preciosidade...
Não duvido que o homem Obama tenha qualidades inegáveis que mereçam atenção e respeito. Afinal, numa sociedade ainda extremamente racista apesar de sua pretensa dedicação à democracia, ver a trajetória de um homem afro-americano do anonimato à presidência da mais imperialista das nações constitui fato inédito e digno de nota.
Entretanto, como político o presidente americano ainda não disse ao que veio. Depois de não conseguir implantar as várias medidas que havia prometido em campanha e de haver se comprometido, ainda que por manobras dos adversários, com ideias e ideais que estavam na contramão de sua visão política, fica difícil agregar à imagem do ser humano e cidadão a condição de bom político. Já havia sido precipitada (e extremamente oportunista) a concessão a ele, no início do mandato, de um Nobel da Paz - que se provou ainda mais equivocado e constrangedor com o passar do tempo. Agora surge uma biografia "impecável" de um homem que ainda não terminou de cumprir seu ciclo histórico-político.
Foi precipitação da editora? Não creio - é uma daquelas que publicam coisas interessantes e que mantêm qualidade editorial acurada. Seria, então, uma jogada de marketing para atrair um certo nicho de consumidores que se encontram "alinhados" com a nova (velha) direita linha-dura e que se concentra numa certa faixa (restritíssima) da população paulistana. Se for, creio que superestimaram as vendas: o volume em questão deve ficar encalhado na vitrine ou brevemente será econtrada por um terço do preço de loja em sebos do país, provavelmente junto de velhos livros de política ultrapassados e cuja única função é acumular poeira em prateleiras rente ao chão, onde ninguém se agacha para ver...
Problema de timing da biografia, e da editora brasileira que a lançou no mercado nacional...

2 comentários:

  1. Wow! Excelente post Flavio. E agora do jeito que vão as coisas por lá, o seu governo ficará demasidamente truncado pra ele tentar qualquer manobra nova, uma pena.

    Desculpe a demora para lhe responder. Não queria escrever qualquer coisa. Primeiro, meus sentimentos, não consigo imaginar a dor que deve ser perder a mãe. As vezes penso no dia que isso irá acontecer e no momento já fico sem chão. A vida segue, não tem jeito. Você comentou sobre a viagem que faria a Europa, tenho certeza que absorveu muita coisa boa do velho mundo.

    Obrigado pela força que sempre me deu, no momento ando correndo atrás de fazer a Bicicleta Girassol andar. Começo um curso de marcenaria em breve, que além de me ajudar com os brinquedos, será a realização de um sonho e a retomada aos estudos. Determinei que em Março preciso estar com os "brinquedos/produtos" testados, aprovados e pronto para a venda, espero que consiga cumprir esta meta.

    Mais um ciclo fechou-se e outro que abre-se pra gente tentar melhorar mais um pouquinmho, né?

    Grande abraço, força aí e muita luz!
    ;)

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  2. Pois é: eu e as minhas impertinências. Sabe, fiquei encafifado com o tal do livro e comentei com uns amigos que estavam comigo: "Pô, o cara nem terminou o mandato!" - parece uma idolatração precipitada. Além disso, parece que virou moda, não é? O Clinton escreveu a dele (depois de deixar a presidência), a esposa escreveu a dela, e quem não escreveu teve sua biografia escrita por terceiros. Essa hiper-valorização da própria imagem que os líderes americanos têm me cansa. Não tenho paciência para essa auto-adoração hiper-vaidosa. Acredito no trabalho conjunto, na colaboração, no respeito ao coletivo. Claro que essas pessoas devem ter algo bacana para contribuir em relação às suas experiências de vida, mas o que as tornam (suas experiências) mais importantes do que a dos outros? O fato de que exercem (ou exerceram) posições políticas importantes, ainda que controversas? Pode ser, mas ainda acho que aprendo mais com as pessoas comuns com suas histórias extraordinárias - porque a história de cada um de nós é extraordinária - do que com essas pessoas. E, honestamente, não acredito nessa fábrica de lugares comuns que parece ser a chamada "literatura política" norte-americana: as mesmas idéias de dominação, visão estreita e desrespeitosa em relação às culturas que lhes são diferentes, duvidosos interesses comerciais e outros que tais.

    Ainda não consegui escrever um post sobre a morte de minha mãe. Não por causa da grande dor, mas por não conseguir pensar em um texto que faça justiça à força do que era nossa relação, muitas vezes tempestuosa, outras extremamente engrandecedoras. Mas a lição mais imediata que pude tirar disso é de que devemos estar ebm com as pessoas que amamos: sem rancores, sem mágoas, sem arrependimentos. Isso me ajudou muito. Mas ainda pretendo escrever sobre isso em algum momento.

    Acho bom mesmo que essa Bicicleta Girassol comece a andar (risos)! Vou divulgar para os meus amigos, com certeza. Mas sabe do que sinto falta no seu trabalho? De um desenho que represente você. Acho bárbaro que sua esposa e sua filha sejam sua inspiração maior, mas acho que seria bacana incorporar visualmente a imagem do pai. Você tem um carinho tão especial pela sua filha que isso deveria ir para os seus desenhos. Aliás, você poderia fazer o desenho de uma tandem bike com vocês três pedalando sob a chuva... seria lindo.

    Abraços e muita paz!

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