26 de ago. de 2009

Entre cartas e algemas

Lembranças devem colorir
os pequenos espaços deixados
pelo ir e vir despedaçado
dos nossos olhares
desviados

É que a única coisa
que víamos era o que
ninguém poderia ver
e, por isso, críamos
que, ao longo do formato,
havia algo sem
conteúdo, porque
a coerência nós
desenhávamos.

Os fragmentos
seguirão remendando as verdades
que você desvirtuou
na medida da conveniência
e das suas oportunidades

Ficam pra mim visões
de um futuro desvendado
num instante em que
cerrou seus lábios
roubando-me o direito
de ouvir o seu gemido

As composições das dores
caladas
sobre sonhos frustrados
enfeitam a parede da sala
onde mora um resto cru
de saudades suspiradas

Fico, pois, com as penas brandas,
com as folhas brancas,
as pernas bambas,
as rimas bobas
e as correntes brutas.

Ana Flávia